Arquivo da tag: viagem

pela janela

Foto: Camila Bahia

Foto: Camila Bahia

dia 02

passamos pela ruína de uma casa. e mais muitas casas em ruínas. em algum momento antes, eu já havia me lembrado da casa onde criamos Hannah, na pracinha, mobiliada com minhas panelas rosas de plástico. pensei num documentário em que levaríamos antigos proprietários ao que sobrou do que já foi lar. haveria de resgatar essas ligações: em cartórios, escrituras e cômodos da mente. quem foram ali? quem saíram dali? hoje, tijolos expostos, vísceras escondidas; mato.

de não-lugares somos feitos.

um filme de afetos, acasos, descobertas |

por fernanda brescia |

sobre decidir gravar o que cruzava apenas o imaginário, juntar oito peitos abertos, dezesseis janelas dispostas, dois veículos e uma sem medida vontade de chão. um filme de afetos. de reaprender a ler: a – fê – ê – tê – o – sí. um filme sobre um alfabeto. e sons de outros brasis.

foto (4)

placas do sudeste, carrocerias do nordeste, tratores, cargas de todo um país. sobre se perder e encontrar uma nova brescia em antônio dias; e outra logo mais ali. quando ‘sul’ e ‘norte’ se encontram o que era mi-to se dissolve. ‘a luz foi quem mandou esperar (…). a luz põe dias e sóis no lugar. a luz vem. nada está no lugar’, entoa romulo fróes pelas ondas do som, na estrada.

sobre perder de vista rios e mares de morros e se deixar banhar por secos horizontes do que só aparentemente não acaba. não acaba nas nossas retinas. e reticências.

foto (2)

garoa fina e 16º C nos receberam – e surpreenderam – na primeira grande parada rumo ao sertão: vitória da conquista. depois de 850 quilômetros, sentir o corpo querendo chegar e os olhos querendo pouso. e o que segue pra além da estrada e do que se pode ver.

dia um

Foto: Sarah Dutra

Foto: Sarah Dutra

por Leandro Lopes |

Primeiro dia. 850 quilômetros. Poucas saudades de um monte de coisas… muita vontade de fazer tudo acontecer, algumas indecisões e uma mão cheia de dedos de alguns medos também. Céu claro, dia sem chuva, boa comida, pouca água porque esqueci de bebê-la. Boa conversa e ótimas músicas. Nenhum susto. Devo correr menos amanhã, tentar perceber melhor a paisagem dos lugares, parar em Milagres, encontrar um tio e uma feira de tudo que fui quando criança. Muita coisa boa chegou pelas redes sociais, energias e boas notícias. O melhor ainda foi reencontrar o sotaque, ouvir os baianos falando baianês é sempre saboroso. Hoje foi lindo, amanhã, dia dois, será mais belo. Está só começando.

conselheiros de todo o sertão e além: uni-vos!

“Cego Júlio: Seu Antônio, tá vendo aí bem adiante dos seus olhos?

Antônio das Mortes: É o sertão grande de Canudos.

Cego Júlio: A pois, nesse grande eu enxergo a terra vermelha do sangue de Conselheiro. Morreu quatro expedições do governo”.

Há 117 anos, morria Antônio Conselheiro. Ao se olhar para o grandioso sertão de Canudos, dá vontade, de fato, de se perguntar – assim como Glauber Rocha em ‘Deus e o Diabo na Terra do Sol’: ‘como ele resistiu tanto’?

Conselheiro é um dos poucos nomes brasileiro capazes de ativar no imaginário popular brasileiro o símbolo da resistência. Morto em 22 de setembro de 1897, Antônio Conselheiro lutou pelo que considerava um modelo de sociedade igualitária, socialista, com uma população de negros (recém-libertos) e índios. Resistiu até a quarta expedição do Exército Brasileiro, composta por mais de 7 mil soldados.

E hoje? O quê Antônio Conselheiro representa daquele Brasil república que nascia? Com que olhos os sertanejos olham hoje suas lembranças, mentiras e verdades? O documentário ‘Sertão como se fala’ também deseja entender o quê ainda existe do imaginário sertanejo pelo sertão atual: o quanto essas histórias mudam as pessoas e o quanto as pessoas mudam essas histórias?

Cadernos de Literatura Brasileira: Euclides da Cunha.

Cadernos de Literatura Brasileira: Euclides da Cunha.

Para o filme, é emblemático começar uma campanha de financiamento coletivo no Catarse em uma data tão simbólica como a de hoje: 22 de setembro, 117 anos de morte de Antônio Conselheiro. Queremos entender as peculiaridades do abecedário do sertão, mas, para isso, é preciso compreender a história do sertanejo,  suas heranças culturais e identitárias que transformaram ao longo dos tempos suas formas de sociabilidade: o quê é o Sertão hoje? Como ele se transformou a partir das suas memórias?

Que os Antônios Conselheiros da resistência sejam firmes também à força do tempo e que as histórias do Brasil possam ser lidas com outros olhares! Acesse a página da campanha no Catarse, conheça detalhes do projeto e colabore! Pegue carona no abc do sertão e nos ajude a descobrir novas formas de soletrar o mundo!