por Camila Bahia |
A natureza é indiferente – escrevi no meu caderno de capa preta, durante uma aula de laboratório de videodocumentário. Foi depois de assistir “Noite e neblina”, em que flores amarelas e vegetação verde se alastravam por campos de concentração na Polônia – anos depois de tudo aquilo ter sido cortado em cinza-sangue.
Escrevo agora a mesma coisa em meu caderninho marrom de flores, que caminha comigo pelo sertão. A natureza é indiferente também em Canudos. A água afoga o que já havia sido destruído pelas mãos e pólvoras humanas. O verde cresce em volta com amostras de lilás e amarelo aqui e lá.
Plantas-arame, pedras-água, gente-terra. Gente-guerra. Os pássaros que flanam não sabem dos tiros e gritos e urros de vida e morte ali já ecoados. Nada sabe o que foi.
[Enquanto pensava isso no calor que vem do chão e dos ares de Canudos, passou por mim o mesmo uivo do Monte Santo. Como um sussurro ao ouvido. O sertão está cada vez mais em mim.]