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Encontros, desencontros, reencontros

 

Foto: Sarah Dutra

Foto: Leandro Lopes

por Sarah Dutra

São José do Egito (PE) – Barreiras de Caraúbas (PB)

[via Congo (PB)]

Não foi logo que esse projeto que me foi apresentado que pensei nessa possibilidade, mas quando já estava aqui, andando pelo sertão.

Foi escutando pessoas mais velhas, talvez com a Dona Nêga, que tem a mesma idade que você teria hoje.

Foi só aqui que me peguei pensando: Será que o vovô aprendeu o abc do sertão?

Nunca te ouvi falar Fê, nem Ji, nem Mê. Nunca te ouvi falar Si de Severino e de Sarah. Sempre se referiu à nossa letra como ésse.

Talvez porque não quisesse lembrar dos tempos difíceis no Congo, no tempo de dureza, de rachadura, de quando viveu na Paraíba, da época que foi fotógrafo de um padre pelo sertão do Piauí. Até faz sentido. Só fiquei sabendo dessas histórias pela vovó. Você não  falava muito desse tempo.

Ou talvez apenas não tenha aprendido o alfabeto sertanejo. Talvez o seu alfabeto fosse o mesmo que o que aprendi em Minas no início dos anos 1990.

Foi quase que por acaso que você foi parar em BH com a vovó. Foi quase que por acaso que fui passar pelo Congo.

Faltando 31 km para a sua cidade, meus olhos já marejavam.

Quando a placa de 10 km apareceu meu coração se acalmou. Me lembrei dos sonhos que tive naquela primeira semana de 2008, quando você se despediu de mim e disse que estava tudo bem.

Me invadiu uma sensação de que estava indo te encontrar. Pra ouvir seus conselhos e opiniões de fotógrafo sobre o trabalho que ando fazendo. Pra te contar que estou aprendendo a fotografar. Que estou virando fotógrafa no sertão. Te dar um abraço. Sentir seus braços magros me envolverem. Escutar sua voz meio rouca. Ouvir sua risada. Ver seu sorriso largo. Fazer uma chapa sua posando com o corpo ligeiramente girado, com as mãos nos bolsos. Queria mesmo era te escutar dizer: “coloca cinco ponto seis aí”.

in-fin-itude

por Camila Bahia

‘Esse filme só acaba quando voltarmos nesses lugares para exibi-lo’ – Leo me mostrou suas palavras recém escritas, durante uma gravação. Enquanto éramos apresentados a mais um mundo, possível a partir de um alguém. De trás das câmeras, nos olhamos e, em silêncio, concordamos.

Esse filme só acaba quando voltarmos nesses lugares para exibi-lo. Quando todos aqueles sorrisos se enxergarem na tela. Quando forem eles duplos – fora e dentro do filme.

Mas muitas das despedidas me abraçam o coração com a sensação do raro. Do único. De um encontro que se dá e que se encerra ali. Que existe em si só. Que acontece em toda sua potência e carrega muita força e verdade em sua finitude.

Alguns não verão. Esse filme nunca acaba.

Foto: Camila Bahia

Foto: Camila Bahia