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um filme de afetos, acasos, descobertas |

por fernanda brescia |

sobre decidir gravar o que cruzava apenas o imaginário, juntar oito peitos abertos, dezesseis janelas dispostas, dois veículos e uma sem medida vontade de chão. um filme de afetos. de reaprender a ler: a – fê – ê – tê – o – sí. um filme sobre um alfabeto. e sons de outros brasis.

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placas do sudeste, carrocerias do nordeste, tratores, cargas de todo um país. sobre se perder e encontrar uma nova brescia em antônio dias; e outra logo mais ali. quando ‘sul’ e ‘norte’ se encontram o que era mi-to se dissolve. ‘a luz foi quem mandou esperar (…). a luz põe dias e sóis no lugar. a luz vem. nada está no lugar’, entoa romulo fróes pelas ondas do som, na estrada.

sobre perder de vista rios e mares de morros e se deixar banhar por secos horizontes do que só aparentemente não acaba. não acaba nas nossas retinas. e reticências.

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garoa fina e 16º C nos receberam – e surpreenderam – na primeira grande parada rumo ao sertão: vitória da conquista. depois de 850 quilômetros, sentir o corpo querendo chegar e os olhos querendo pouso. e o que segue pra além da estrada e do que se pode ver.

conselheiros de todo o sertão e além: uni-vos!

“Cego Júlio: Seu Antônio, tá vendo aí bem adiante dos seus olhos?

Antônio das Mortes: É o sertão grande de Canudos.

Cego Júlio: A pois, nesse grande eu enxergo a terra vermelha do sangue de Conselheiro. Morreu quatro expedições do governo”.

Há 117 anos, morria Antônio Conselheiro. Ao se olhar para o grandioso sertão de Canudos, dá vontade, de fato, de se perguntar – assim como Glauber Rocha em ‘Deus e o Diabo na Terra do Sol’: ‘como ele resistiu tanto’?

Conselheiro é um dos poucos nomes brasileiro capazes de ativar no imaginário popular brasileiro o símbolo da resistência. Morto em 22 de setembro de 1897, Antônio Conselheiro lutou pelo que considerava um modelo de sociedade igualitária, socialista, com uma população de negros (recém-libertos) e índios. Resistiu até a quarta expedição do Exército Brasileiro, composta por mais de 7 mil soldados.

E hoje? O quê Antônio Conselheiro representa daquele Brasil república que nascia? Com que olhos os sertanejos olham hoje suas lembranças, mentiras e verdades? O documentário ‘Sertão como se fala’ também deseja entender o quê ainda existe do imaginário sertanejo pelo sertão atual: o quanto essas histórias mudam as pessoas e o quanto as pessoas mudam essas histórias?

Cadernos de Literatura Brasileira: Euclides da Cunha.

Cadernos de Literatura Brasileira: Euclides da Cunha.

Para o filme, é emblemático começar uma campanha de financiamento coletivo no Catarse em uma data tão simbólica como a de hoje: 22 de setembro, 117 anos de morte de Antônio Conselheiro. Queremos entender as peculiaridades do abecedário do sertão, mas, para isso, é preciso compreender a história do sertanejo,  suas heranças culturais e identitárias que transformaram ao longo dos tempos suas formas de sociabilidade: o quê é o Sertão hoje? Como ele se transformou a partir das suas memórias?

Que os Antônios Conselheiros da resistência sejam firmes também à força do tempo e que as histórias do Brasil possam ser lidas com outros olhares! Acesse a página da campanha no Catarse, conheça detalhes do projeto e colabore! Pegue carona no abc do sertão e nos ajude a descobrir novas formas de soletrar o mundo!

somos todos conselheiros

Há exatos 117 anos,  morria Antonio Conselheiro e nascia um dos mais importantes símbolos de resistência do Brasil – sem dúvidas um dos mais fortes no nosso imaginário popular. Quando o Arraial de Canudos foi enfim tomado pelas forças republicanas, no início de outubro de 1897, Antônio Conselheiro era só corpo e lembranças.

Ele fundou um vilarejo às margens do Rio Vaza-Barris, que nos anos de 1890 chegou a ser a segunda maior cidade da Bahia, com mais de 30 mil habitantes. Naquele momento, o “profeta”, como era denominado, se propunha a  tentar organizar uma sociedade igualitária, socialista, com uma população de negros (recém-libertos) e índios. No entanto, por ser contrário ao regime republicano, viu sua cidade ser destruída e seu povo, vítima de um dos maiores genocídios da história do país.

Cadernos de Literatura Brasileira: Euclides da Cunha.

Antes do massacre, os conselheiristas, armados com instrumentos primários de guerra, como cacetes, espingardas e garruchas, venceram três expedições do Exército Brasileiro – a primeira com 200 soldados, a segunda com 600 e a terceira com mais de 1.200 homens. A derrota dos conselheiristas ocorreu diante da quarta expedição que foi organizada a partir de duas colunas e mais de 7 mil soldados.

Depois de executarem todas as pessoas que viviam no Arraial, incluindo mulheres e crianças, os soldados  do Exército encontraram o corpo de Conselheiro, já enterrado. Não se sabe exatamente como ele morreu.

Cadernos de Literatura Brasileira: Euclides da Cunha.

Cadernos de Literatura Brasileira: Euclides da Cunha.

Quase doze décadas depois, voltaremos a Canudos e não podemos deixar de questionar: o quê Antônio Conselheiro continua a representar daquele Brasil república que nascia, ali? Com que olhos os sertanejos olham hoje suas lembranças, mentiras e verdades? O documentário ‘Sertão como se fala’ também deseja entender o quê ainda existe do imaginário sertanejo pelo sertão atual: o quanto essas histórias mudam as pessoas e o quanto as pessoas mudam essas histórias?

Que os Antônios Conselheiros da resistência sejam firmes também às forças dos tempos e que as histórias do Brasil possam ser recontadas com outros olhares!