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Os primeiros dias: estrada

Foto: Sarah Dutra

Foto: Sarah Dutra

por Sarah Dutra |

Pelo caminho que nos levou até Feira de Santana, eram muitas as casinhas solitárias que surgiam próximas à rodovia. Singelas, compunham com perfeição o contexto que ocupavam. Enquanto isso, no asfalto, algumas cegonheiras pediam atenção, elas desviavam das árvores.  Em alguns pontos, ao longo do acostamento, crianças com bonecas e mulheres com lenços nos cabelos se posicionavam com as mãos estendidas aos carros que corriam.

Um homem-placa anunciava: “Rodízio a R$11,90”. Logo mais a frente surgia uma pequena construção com um banner indicando que aquela era a churrascaria “Fome Zero”.

Mais pessoas esticavam suas mãos pela rodovia.

Surgiu um pequeno povoado, com pequenas casas e uma pequena igreja no centro. Logo desaparece.u

No carro, o ar condicionado estava no marcador 2 e se usava óculos de sol. Os vidros eram escuros e estavam fechados. Luiz Gonzaga cantava que “metade do Brasil passa fome”.

Até ali, 88 fotos da estrada.

Aos poucos o cerrado deu lugar à caatinga. Os morros deram lugar a uma imensidão sem fim sob o céu azul, azul como poucas vezes vi.

pela janela

Foto: Camila Bahia

Foto: Camila Bahia

dia 02

passamos pela ruína de uma casa. e mais muitas casas em ruínas. em algum momento antes, eu já havia me lembrado da casa onde criamos Hannah, na pracinha, mobiliada com minhas panelas rosas de plástico. pensei num documentário em que levaríamos antigos proprietários ao que sobrou do que já foi lar. haveria de resgatar essas ligações: em cartórios, escrituras e cômodos da mente. quem foram ali? quem saíram dali? hoje, tijolos expostos, vísceras escondidas; mato.

de não-lugares somos feitos.

um filme de afetos, acasos, descobertas |

por fernanda brescia |

sobre decidir gravar o que cruzava apenas o imaginário, juntar oito peitos abertos, dezesseis janelas dispostas, dois veículos e uma sem medida vontade de chão. um filme de afetos. de reaprender a ler: a – fê – ê – tê – o – sí. um filme sobre um alfabeto. e sons de outros brasis.

foto (4)

placas do sudeste, carrocerias do nordeste, tratores, cargas de todo um país. sobre se perder e encontrar uma nova brescia em antônio dias; e outra logo mais ali. quando ‘sul’ e ‘norte’ se encontram o que era mi-to se dissolve. ‘a luz foi quem mandou esperar (…). a luz põe dias e sóis no lugar. a luz vem. nada está no lugar’, entoa romulo fróes pelas ondas do som, na estrada.

sobre perder de vista rios e mares de morros e se deixar banhar por secos horizontes do que só aparentemente não acaba. não acaba nas nossas retinas. e reticências.

foto (2)

garoa fina e 16º C nos receberam – e surpreenderam – na primeira grande parada rumo ao sertão: vitória da conquista. depois de 850 quilômetros, sentir o corpo querendo chegar e os olhos querendo pouso. e o que segue pra além da estrada e do que se pode ver.

dia um

Foto: Sarah Dutra

Foto: Sarah Dutra

por Leandro Lopes |

Primeiro dia. 850 quilômetros. Poucas saudades de um monte de coisas… muita vontade de fazer tudo acontecer, algumas indecisões e uma mão cheia de dedos de alguns medos também. Céu claro, dia sem chuva, boa comida, pouca água porque esqueci de bebê-la. Boa conversa e ótimas músicas. Nenhum susto. Devo correr menos amanhã, tentar perceber melhor a paisagem dos lugares, parar em Milagres, encontrar um tio e uma feira de tudo que fui quando criança. Muita coisa boa chegou pelas redes sociais, energias e boas notícias. O melhor ainda foi reencontrar o sotaque, ouvir os baianos falando baianês é sempre saboroso. Hoje foi lindo, amanhã, dia dois, será mais belo. Está só começando.