por Leandro Lopes |
Eu queria nunca ter visto filme nenhum. São quase quatro horas da manhã. Passei a noite (ou madrugada) a rever o sertão que a gente viu e registrou. Na ilha de edição na qual me encontro, só agora percebi que desde o início do mapeamento eu tento ver o filme como eu gostaria que ele fosse. Talvez seja o mesmo filme de quando nem filme existia, de quando ele era somente um sonho, de quando 34 dias de estrada era quase uma abstração. Feito filho que a gente custa a acreditar que não é lá um grande jogador de futebol. Que a gente custa a perceber que o negócio dele é a patinação. Ao não encontrar o filme que cismei que existia, tenho uma sensação aguda de uma decepção abestalhada.
A madrugada foi longa! Mas agora, às 4h, vejo que o filme que se constrói, não sei por quais forças externas, por quais ventos soprados, é, de fato, melhor do que o filme que eu queria. É quase uma facada no peito. É uma traição que é construída sem traidor. É a angústia que desceu ao playground a zombar desse pobre aspirante a documentarista. Talvez o filme que eu queria tanto é aquele carregado de bagagens que agora eu desejava não ter. Não que tivesse muito, mas o pouco que tenho já me sobrecarrega demasiadamente neste instante. Queria nunca ter visto outros filmes. Amanhã, logo cedo, vou tentar imaginar um deserto, desvendar outros recomeços. Admitir que a certeza sobre um filme que insiste em não existir e que não existirá, é fato, é o pior caminho que tenho para percorrer nessa imensidão de possibilidades. Amanhã, será um depois possível. Decepcionado, é engraçado isso, me sinto agora, a saber dos meus erros, um grande apaixonado por tudo isso.